Um sagui aguarda dentro de uma gaiola após a polícia prender um homem
que tentava contrabandear diversos animais raros em sua mala. (Foto:
Reuters)
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Após a compra desses primatas, muitos decidem abandoná-los em
parques e praças. Mas não imaginam o problema ambiental que estão
causando.
Os saguis são primatas bastante conhecidos, com muitas variedades.
Uma delas é a constituída pelo sagui-de-tufo-branco e pelo
sagui-de-tufo-preto, muito comuns em regiões como São Paulo e Rio de
Janeiro, originários do Nordeste e do Centro-Oeste, em cujas estradas
costumam ser adquiridos.
Contudo, ao notar que esses pequenos animais têm necessidade de cuidados veterinários, higiene, abrigo, alimentação e autorização do órgão ambiental competente, ou, ainda, que eles causam problemas em função das fezes, da urina e do barulho, as pessoas optam por abandoná-los nos parques municipais e estaduais, que costumam acolher diversas espécies de animais, desde pequenos invertebrados até grandes mamíferos.
Ao abandonar esses animais em áreas verdes, as pessoas acreditam fazer bem ao animal e promover sua "liberdade". O que muitos não sabem é que, além de crime ambiental, esse ato prejudica o indivíduo e compromete a flora e a fauna locais.
Vamos por partes. Primeiro vamos considerar o animal abandonado. Ele foi retirado de seu habitat, de seu grupo (o sagui-de-tufo-preto vive em grupos de até dez indivíduos, e o sagui-de-tufo-branco, em grupos de até cinco indivíduos), confinado em local precário e vendido provavelmente em estradas. Após enfrentar a viagem, vai para uma gaiola até ser, muitas vezes, abandonado em um local desconhecido.
À medida que são abandonados e alimentados pela população, o número de saguis cresce. Com o crescimento do número de indivíduos, cresce também a disputa por espaço, e muitos invadem áreas urbanas, sofrendo atropelamentos e choques elétricos nas fiações.
Do ponto de vista ecológico, os impactos são preocupantes. O sagui-de-tufo-preto, também conhecido como mico-estrela e sagui-do-cerrado, provém da região Centro-oeste, enquanto o sagui-de-tufo-branco é nativo do Nordeste Brasileiro. Apesar de nativos do Brasil, são animais de outras regiões e, ao serem introduzidos em áreas verdes de outros estados, competem com a fauna local por alimento e abrigo, podendo causar a diminuição dessa fauna. Também se alimentam de ovos, comprometendo a população de aves do local. Cabe lembrar que essas aves têm papel fundamental na cadeia alimentar e na regeneração das áreas verdes.
Ainda do ponto de vista ecológico, um fato muito comum é a hibridização. As duas espécies, aos se encontrarem em parques e praças (fato que não ocorreria naturalmente, devido à distância entre as espécies, cruzam e geram o indivíduo híbrido e estéril. Segundo Ricardo Gandara, biólogo do Departamento de Parque e Áreas Verdes de São Paulo (DEPAVE 3 - Fauna), "a hibridização é muito ruim para o futuro desses animais, pois estamos convertendo duas populações de saguis e sua diversidade genética em um único grupo híbrido. Ou seja, vai totalmente contra o princípio de conservação da biodiversidade. Mais grave ainda se considerarmos que a espécie nativa da região da cidade de São Paulo, o sagui-da-serra-escuro, está se tornando cada vez mais raro, perdendo território para as espécies invasoras e por pressão de ocupação de suas áreas de ocorrência."
Temos ainda a questão da saúde pública. Os saguis são mamíferos transmissores da raiva. Se infectados, podem transmitir a doença através da mordedura, ou de simples arranhões. Por serem apreciados pela população, que os alimenta, podem morder ao se sentirem ameaçados. Marcelo Schiavo Nardi, veterinário, alerta sobre casos de raiva humana na região Nordeste: "Uma variante do vírus da raiva específica dos saguis tem despertado grande interesse dos pesquisadores". Segundo ele, há casos de mordedura na cidade de São Paulo, mas sem o contágio da doença associada aos saguis.
Não somente os saguis são exemplos de introdução indevida. Há vários animais exóticos, provenientes de outros países, que foram introduzidos e representam riscos ambientais e à saúde pública.
Mas e a solução? Gandara afirma que não há apenas uma solução, mas um conjunto de ações: "O resultado de trabalhos relacionados ao manejo e ao monitoramento de fauna para o controle populacional de determinada espécie de sagui não será satisfatório caso não sejam combatidas ações como o tráfico de animais silvestres e solturas indevidas dos animais. Para tanto, ações voltadas à conscientização e à educação da população são fundamentais”.
É preciso entender que cada animal desempenha papel fundamental em seu habitat, mas que, em ambientes diferentes, podem desestruturar toda a dinâmica local.
Contudo, ao notar que esses pequenos animais têm necessidade de cuidados veterinários, higiene, abrigo, alimentação e autorização do órgão ambiental competente, ou, ainda, que eles causam problemas em função das fezes, da urina e do barulho, as pessoas optam por abandoná-los nos parques municipais e estaduais, que costumam acolher diversas espécies de animais, desde pequenos invertebrados até grandes mamíferos.
Ao abandonar esses animais em áreas verdes, as pessoas acreditam fazer bem ao animal e promover sua "liberdade". O que muitos não sabem é que, além de crime ambiental, esse ato prejudica o indivíduo e compromete a flora e a fauna locais.
Vamos por partes. Primeiro vamos considerar o animal abandonado. Ele foi retirado de seu habitat, de seu grupo (o sagui-de-tufo-preto vive em grupos de até dez indivíduos, e o sagui-de-tufo-branco, em grupos de até cinco indivíduos), confinado em local precário e vendido provavelmente em estradas. Após enfrentar a viagem, vai para uma gaiola até ser, muitas vezes, abandonado em um local desconhecido.
À medida que são abandonados e alimentados pela população, o número de saguis cresce. Com o crescimento do número de indivíduos, cresce também a disputa por espaço, e muitos invadem áreas urbanas, sofrendo atropelamentos e choques elétricos nas fiações.
Do ponto de vista ecológico, os impactos são preocupantes. O sagui-de-tufo-preto, também conhecido como mico-estrela e sagui-do-cerrado, provém da região Centro-oeste, enquanto o sagui-de-tufo-branco é nativo do Nordeste Brasileiro. Apesar de nativos do Brasil, são animais de outras regiões e, ao serem introduzidos em áreas verdes de outros estados, competem com a fauna local por alimento e abrigo, podendo causar a diminuição dessa fauna. Também se alimentam de ovos, comprometendo a população de aves do local. Cabe lembrar que essas aves têm papel fundamental na cadeia alimentar e na regeneração das áreas verdes.
Ainda do ponto de vista ecológico, um fato muito comum é a hibridização. As duas espécies, aos se encontrarem em parques e praças (fato que não ocorreria naturalmente, devido à distância entre as espécies, cruzam e geram o indivíduo híbrido e estéril. Segundo Ricardo Gandara, biólogo do Departamento de Parque e Áreas Verdes de São Paulo (DEPAVE 3 - Fauna), "a hibridização é muito ruim para o futuro desses animais, pois estamos convertendo duas populações de saguis e sua diversidade genética em um único grupo híbrido. Ou seja, vai totalmente contra o princípio de conservação da biodiversidade. Mais grave ainda se considerarmos que a espécie nativa da região da cidade de São Paulo, o sagui-da-serra-escuro, está se tornando cada vez mais raro, perdendo território para as espécies invasoras e por pressão de ocupação de suas áreas de ocorrência."
Temos ainda a questão da saúde pública. Os saguis são mamíferos transmissores da raiva. Se infectados, podem transmitir a doença através da mordedura, ou de simples arranhões. Por serem apreciados pela população, que os alimenta, podem morder ao se sentirem ameaçados. Marcelo Schiavo Nardi, veterinário, alerta sobre casos de raiva humana na região Nordeste: "Uma variante do vírus da raiva específica dos saguis tem despertado grande interesse dos pesquisadores". Segundo ele, há casos de mordedura na cidade de São Paulo, mas sem o contágio da doença associada aos saguis.
Não somente os saguis são exemplos de introdução indevida. Há vários animais exóticos, provenientes de outros países, que foram introduzidos e representam riscos ambientais e à saúde pública.
Mas e a solução? Gandara afirma que não há apenas uma solução, mas um conjunto de ações: "O resultado de trabalhos relacionados ao manejo e ao monitoramento de fauna para o controle populacional de determinada espécie de sagui não será satisfatório caso não sejam combatidas ações como o tráfico de animais silvestres e solturas indevidas dos animais. Para tanto, ações voltadas à conscientização e à educação da população são fundamentais”.
É preciso entender que cada animal desempenha papel fundamental em seu habitat, mas que, em ambientes diferentes, podem desestruturar toda a dinâmica local.
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Fonte: Allianz Sustentabilidade, em 25/setembro/2012 - http://sustentabilidade.allianz.com.br