segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um planeta vivo?


Espíritas e ecologistas reconhecem a Terra como um complexo laboratório de experiências que, ao longo do tempo, tornaram a vida possível. As explicações sobre como esses fenômenos se resolvem diferem, mas, também neste caso, há pontos de convergência.

A idade estimada do planeta Terra é de 4,5 bilhões de anos. É tanto tempo que simplesmente não conseguimos entender com clareza o que isso significa. Para facilitar a nossa compreensão, o ecologista norte-americano David Brower teve a maravilhosa ideia de comparar a idade da Terra ao tempo de uma semana:


Tomemos os seis dias da semana para representar o que de fato se passou em cinco bilhões de anos. O nosso planeta nasceu numa segunda-feira, a zero hora. A Terra formou-se na segunda, terça e quarta-feira até o meio-dia. A vida começa quarta-feira ao meio-dia e desenvolve-se em toda sua beleza orgânica durante os quatro dias seguintes.

Somente às quatro da tarde de domingo é que os grandes répteis aparecem. Cinco horas mais tarde, às nove da noite, quando as sequoias brotam da terra, os grandes répteis desaparecem.

O homem surge só três minutos antes da meia-noite de domingo. A um quarto de segundo antes da meia-noite, inicia-se a Revolução Industrial. Agora é meia-noite, de domingo e estamos rodeados por pessoas que acreditam que aquilo que fazem há um quadragésimo de segundo pode durar indefinidamente.¹



Brower demonstra de forma clara e objetiva como a espécie humana, apesar de ser uma das últimas formas de vida a se manifestar na Terra, já representa uma ameaça real a si própria, às outras espécies e ao mundo que a acolhe. Um mundo que passou por profundas transformações ao longo de bilhões de anos para que pudesse oferecer as devidas condições físicas, químicas, biológicas e climáticas para que a vida, tal qual a conhecemos hoje, pudesse se manifestar.

Um dos maiores pensadores do nosso tempo, o cientista britânico James Lovelock, concebeu a HIPÓTESE DE GAIA (agora Teoria de Gaia), segundo a qual a Terra se comportaria como um superorganismo vivo. A primeira evidência disso seria o fato de que a temperatura média do planeta se manteve inalterada nos últimos 3,8 bilhões de anos, apesar de a radiação solar projetada sobre o globo terrestre neste período ter aumentado entre 25% e 30%. Como se deu essa resposta do planeta à onda de calor que nos atingiu sem que a temperatura interna tenha se modificado? Lovelock também observa com algum encantamento a perfeição com que se dá a composição dos elementos que definem a Natureza. Isso vale tanto para a taxa de salinidade dos oceanos - algo em torno de 6%, a medida certa para a existência da vida marinha - quanto para o percentual exato de um gás corrosivo e potencialmente inflamável na atmosfera.


Por que o oxigênio permaneceu em 21% e não subiu mais? Creio que a resposta é o incêndio. A correlação entre abundância de oxigênio e inflamabilidade é muito acentuada. Abaixo de 15%, nada queimaria. Acima de 25%, a combustão seria instantânea e haveria incêndios tremendos, que seriam devastadores e destruiriam todas as florestas.²



Que forças estariam determinando essa capacidade de o planeta ser do jeito que é? Gaia, a deusa da terra da mitologia grega, inspirou Lovelock a conceber sua teoria: "Chamo Gaia de um sistema fisiológico porque parece dotado do objetivo inconsciente de regular o clima e a química em um estado confortável para a vida". ³
Ao longo dos anos, Lovelock incorporou à teoria um novo conceito: o de que Gaia também abarcaria os seres vivos que vivem no planeta. Nesse sentido, estabelece um caminho diferente daquele preconizado por Darwin:


Se fosse sabido à epoca que a vida e o ambiente estão tão conjugados, Darwin teria visto que a evolução não envolve apenas os organismos, mas toda a superfície do planeta. Nós então poderíamos ter enxergado a Terra como um sistema vivo, teríamos sabido que não podemos poluir o ar ou usar a pele da Terra - seus oceanos e sistemas florestais - como uma mera fonte de produtos para nos alimentar e mobiliar nossas casas. 4



Os espíritas reconhecem os fenômenos inteligentes da Terra observados pelos ecologistas, mas atribuem a eles outras causas. No capítulo VIII de A Gênese, Allan Kardec diz que "por alma da Terra, pode entender-se, mais racionalmente, a coletividade dos Espíritos incumbidos da elaboração e da direção de seus elementos constitutivos [...]". 5 Em A Caminho da Luz, o Espírito Emmnuel revela, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, as diferentes etapas evolutivas do planeta e da Humanidade ao longo dos milênios. Informa que Jesus pertence à "comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias." 6 No caso específico da Terra, Jesus esteve à frente de "exércitos de trabalhadores devotados" pra definir os "regulamentos dos fenômenos físicos", os diferentes cenários da vida, a composição da atmosfera etc.


Como a Engenharia moderna, que constrói um edifício prevendo os menores requisitos de sua finalidade, os artistas da espiritualidade edificavam o mundo das células iniciando, nos dias primevos, a construção das formas organizadas e inteligentes dos séculos porvindouros.7



Há uma parte de O Livro dos Espíritos inteiramente consagrada à ação dos Espíritos nos fenômenos da Natureza. Lá informa-se que "Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos [...]". Esses espíritos "presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor".8
Carlos Torres Pastorino, mais conhecido como o autor do best-seller Minutos de Sabedoria, foi um profundo estudioso do Espiritismo e de assuntos correlatos à Doutrina. No livro cnica da Mediunidade, ele dá outras informações sobre essa categoria de espíritos: 


Espíritos elementais, ou dos elementos da Natureza, divididos desde a Antiguidade, de acordo com os elementos: gnomos da terra (os hindus os dizem chefiados por Kchiti); ondinas da água (chefiados por Varuna); silfos do ar (chefiados por Pavana ou Vâyu); e salamandras do fogo (chefiados por Agni). Outros ainda são citados: fadas, duendes, sátiros, faunos, silvanos, elfos, anões etc. Excetuando-se seus chefes e guias, não encarnam como homens, preparando-se para isso por seus contatos com o gênero humano. Embora possuam forças psíquicas, estas não se desenvolveram ainda como "Espíritos" (individualidades) e por isso só possuem (como os animais) o raciocínio concreto, nõ utilizando ainda a palavra como meio de expressão de seus pensamentos. Manifestam-se muito nas sessões de umbanda e quimbanda, e podem obedecer a ordens de criaturas treinadas (boas ou más), para operar o bem ou o mal, que ainda não distinguem. A responsabilidade, pois, recai toda sobre os que emitem as ordens. 9 



De uma forma ou de outra, espíritas e ecologistas reconhecem a existência de forças que atuam positivamente em defesa do planeta, da manutenção da vida e da biodiversidade. Reconhecem também as limitações desses agentes e o risco de desmancharmos o tabuleiro sobre o qual esses sistemas se mantêm estruturados. Seja Gaia, ou a ação dos elementais sob a tutela de inteligências superiores, esse sistema parece reagir a ameaças hostis, mas isso nem sempre nos favorece como espécie. Em útlima instância, é bom lembrar que o planeta é muito mais resistente do que nós. Na verdade, não é o planeta que precisa ser salvo, mas nós. A Terra é capaz de suportar grandes cataclismos - como já o fez tantas e tantas vezes - e seguir em frente. Nos cenários mais sombrios de devastação - uma hecatombe nuclear, por exemplo -, num ambiente hipoteticamente sem luz solar durante décadas ou séculos, sem água potável, sem ar respirável, ainda assim haveria formas de vida ultrarresistentes no mundo microscópico - bactérias, principalmente -, capazes de resistir a tudo isso e reconfigurar a teia da vida nos próximos milênios.
A questão que se coloca diante de nós é se um planeta com esse nível de degradação - até o ponto de continuar existindo, mas sem a presença humana - é o que queremos deixar como legdo da nossa passagem aqui. E se não é este o cenário que desejamos: estaríamos fazendo o suficiente para evitar o pior?

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Bibliografia:
¹  Disponível em: http://www.fortium.com.br/blog/material/natureza.e.cultura.doc - Acesso em: 23 jul. 2009.
²  Lovelock, James.  Gaia: cura para um planeta doente. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 114.  
³  Idem. A Vingança de Gaia. Rio de Janeiro: Íntrinseca, 2006, p.27 
4  Idem. A Vingança de Gaia. Rio de Janeiro: Folha de S. Paulo, São Paulo, 22 jan. 2006.
    Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2008/07/01a-vinganca-de-gaia-por-james-lovelock-2/ - Acesso em: 7 ago. 2009.
5  Kardec, Allan. A Gênese . Tradução de Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, item 7.
6  Xavier, F. Cândido. A Caminho da Luz . Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, cap. I.
Xavier, F. Cândido. A Caminho da Luz. op. cit., cap.II  
8  Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileir, questões 536 e 537.
9  Pastorino, Carlos Torres. Técnica da Mediunidade. 3. ed. 1975, p. 181.

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Fonte: Livro Espiritismo e Ecologia, de André Trigueiro, FEB, 2a. edição. 

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