quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Centros urbanos e galerias: feitos uns para os outros

Uma das galerias mais frequentadas em São Paulo 
é a do Edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer. 
(Foto: Rodgrio Soldo)
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Galerias integram espaço público, facilitam circulação de pedestres e impulsionam oferta de serviços.

Em 2012, foi aprovado um projeto de revitalização para o centro da cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, prevendo a cobertura de um trecho de 200 m da via, a reforma do calçadão e a revitalização de uma galeria, que será interligada à estação ferroviária. O projeto tem como objetivo, além de reestruturar o centro da cidade, garantir sombreamento em toda a extensão da via, que sofre com altas temperaturas. Com as vias protegidas do forte calor e da chuva, o comércio da região ganhará força, uma vez que o trânsito de pedestres no local será favorecido.

“Trata-se de uma recuperação das antigas arcadas, arcos que formam as galerias, que até hoje existem em cidades como Verona, na Itália. Com as arcadas, os pedestres estão protegidos da chuva e do sol forte. Portanto, caminhar pelas ruas se torna uma atividade muito mais gentil”, explica Ciro Pirondi, arquiteto e urbanista e diretor da Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

O projeto de Nilópolis é um exemplo de como o tipo de construção de uma cidade pode transformar as relações humanas daquele lugar. Nesse contexto, as galerias de serviço, espaços térreos, abertos, são um caminho viável e adequado para levar mais qualidade de vida e mobilidade aos moradores de grandes centros urbanos. “Muito mais do que espaços turísticos, essas galerias são grandes centros públicos que reúnem serviços e lojas e interligam ruas, tornando as regiões onde estão localizadas conectadas e mais fáceis de se transitar a pé”, explica o urbanista.

Além do conforto e da segurança para o pedestre, as galerias são verdadeiros atalhos que ligam ruas da cidade, facilitando a circulação e aumentando a mobilidade urbana. Nesse sentido, pode-se colocar como exemplo, no Rio de Janeiro, as galerias Menescal e Duvivier, construídas na década de 40, e até hoje importantes centros de compras, que ligam a Avenida Nossa Senhora de Copacabana à Rua Barata Ribeiro, duas importantes vias do centro carioca.

A possibilidade de mesclar espaços residenciais nos andares superiores com comerciais, nos inferiores, também é uma vantagem fundamental desse tipo de construção. Em São Paulo, uma das mais frequentadas é a galeria do Edifício Copan, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O edifício tem 35 andares e 1.160 apartamentos. Seu andar térreo é aberto a todos os pedestres. Lá se encontram estabelecimentos comerciais, como cabelereiros, cafés, restaurantes, e até uma igreja. “Para se ter uma ideia, passam pela galeria do andar térreo do Edifício Copan em média 9 mil pessoas por dia”, aponta Pirondi.

Galerias em cidades turísticas: centrais, elegantes e muito frequentadas

 
A partir do século 17, com o impulso dado pela revolução industrial e o advento do uso de concreto armado e metal, foram construídas na Europa as primeiras galerias de serviço. A cidade de Milão, por exemplo, tem entre seus principais pontos turísticos uma galeria. Quem visita a cidade invariavelmente passa por um dos marcos arquitetônicos da Belle Époque, a Galleria Vittorio Emanuele II, localizada em um dos pontos mais importantes e centrais da cidade, construída entre 1865 e 1877. É também nessa galeria que estão os restaurantes, os cafés e as grifes mais elegantes, como Gucci, Louis Vuitton e Prada.

O mesmo exemplo pode ser observado em Buenos Aires, onde um dos principais pontos turísticos também é uma galeria, que reúne mais de 100 lojas e diversos serviços, as Galerías Pacífico. Lá também estão disponíveis acesso à internet, fax, berçário e até uma lavanderia.

Galerias x shoppings

 
A ideia de integrar a cidade em suas múltiplas facetas e necessidades por meio de construções mais inteligentes e funcionais não é nova, mas parece ter sido esquecida em muitos lugares, dando lugar a outros formatos. “As cidades foram sofrendo um processo de desgaste, com formas exploratórias do seu espaço”, diz o professor.

O que conhecemos como shopping centers são um exemplo desta outra forma de ocupação. Enquanto as galerias são um local de passagem público, aberto, os shoppings têm em seu DNA características opostas. São espaços privados, que têm como finalidade estar naquele lugar, e ser autossuficientes.

“A essência da construção de uma cidade está no convívio, e as galerias abrangem essa dimensão. Possibilitam morar, trabalhar, ter lazer, almoçar e desempenhar uma série de atividades cotidianas em um mesmo lugar. Na minha visão, o futuro das cidades será norteado por uma questão de mobilidade e convívio, e não por espaços fechados e restritos”, finaliza o arquiteto. 
 
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Fonte: Sustentabilidade Allianz, em 04/setembro/2013, por Camila Hungria.

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