Em uma revisão de centenas de estudos paleoceanográficos,
pesquisadores encontraram evidência de apenas um período nos últimos 300
milhões de anos em que os oceanos mudaram tão rapidamente quanto hoje.
Esse período foi o Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM), há 56
milhões de anos.
Nos últimos cem anos, o aumento da liberação de CO2 de atividades
humanas diminuiu o pH do oceano em 0,1 unidade, uma taxa de acidificação
dez vezes mais rápida do que 56 milhões de anos atrás. A previsão é que
até o ano de 2100, o pH diminua outras 0,2 unidades, aumentando a
possibilidade de que o oceano fique parecido com o observado no PETM.
“O que estamos fazendo hoje se destaca nos registros geológicos”, diz
Bärbel Hönisch, paleoceanógrafo da Universidade de Columbia. “Nós
sabemos que a vida não foi dizimada nas últimas acidificações dos
oceanos. Novas espécies se desenvolveram para substituir aquelas que
foram perdidas. Mas se as emissões industriais de carbono continuarem no
ritmo em que estão, isso pode significar que vamos perder organismos
importantes, como corais, ostras e salmões”.
A palavra “pode” é uma daquelas que cientistas usam com muita
frequência para sugerir dúvida. Mas uma certeza que se perde nas
discussões sobre a mudança climática é que a poluição é simplesmente
ruim.
Os oceanos agem como se fossem uma esponja, que absorve o excesso de
dióxido de carbono do ar. O gás reage com a água e forma ácido
carbônico, que com o tempo é neutralizado pelo carbonato dos fósseis,
das conchas do fundo do mar. Se muito dióxido de carbono entra no oceano
de uma vez, o nível de íons de carbonato diminui, o que gera problemas
para os corais, moluscos e alguns plânctons, que precisam do íon para
construir suas conchas.
Eventos mais catastróficos já aconteceram na Terra, mas talvez com
menos velocidade. Outros dois momentos análogos à acidificação moderna
foram causados por atividades vulcânicas massivas: uma no final da era
Permiano, cerca de 252 milhões de anos atrás, e outra na era Triassica,
há cerca de 201 milhões de anos. Mas os autores do estudo advertem que
existem poucos registros sobre os acontecimentos com mais de 180 milhões
de anos, uma vez que os sedimentos oceânicos acabaram se desfazendo.
No final da era Permiano, cerca de 96% da vida desapareceu. Erupções massivas na atual Rússia podem ter causado uma das maiores extinções da Terra.
Em 20 mil anos ou mais, o carbono na atmosfera aumentou drasticamente.
No final da era Triássica, uma segunda onda de atividade vulcânica,
associada com a separação do super continente Pangea, duplicou a emissão
de CO2 na atmosfera, e causou outra extinção. Recifes de corais se
desmancharam e outras classes de criaturas marítimas desapareceram.
O estudo da PETM
Cerca de 56 milhões de anos atrás, uma misteriosa emissão de CO2 na
atmosfera tornou os oceanos corrosivos. Em 5 mil anos, o CO2 da
atmosfera dobrou para 1.800 partes por milhão, e elevou as temperaturas
médias da Terra em cerca de 6 graus Celsius.
O sedimento característico do período PETM é uma camada de lama
marrom, com grossos depósitos brancos de fósseis de plânctons. Isso se
explica pelo dissolução das conchas de plâncton que ocupavam o fundo o
mar, deixando a argila marrom que cientistas encontram hoje.
Segundo uma pesquisadora, Ellen Thomas, cerca de metade de todas as
espécies de foraminíferos, grupo de organismos monocelulares, se
extinguiu, sugerindo que outros organismos mais acima na cadeia
alimentar também podem ter desaparecido. “É muito raro quando mais de 5 a
10% de espécies se perdem”, compara.
A vida marinha e a acidez da água
Tentativas de reconstruir as mudanças do pH oceânico não puderam ser feitas em laboratório. Em experimentos, cientistas tentaram simular a acidificação moderna do oceano, mas o número de variáveis – quantidade de CO2, temperatura da água, nível de pH e níveis de oxigênio dissolvido – tornam as previsões difíceis.
Tentativas de reconstruir as mudanças do pH oceânico não puderam ser feitas em laboratório. Em experimentos, cientistas tentaram simular a acidificação moderna do oceano, mas o número de variáveis – quantidade de CO2, temperatura da água, nível de pH e níveis de oxigênio dissolvido – tornam as previsões difíceis.
Uma investigação alternativa pode ser feita em regiões vulcânicas,
onde a acidificação chega aos níveis esperados para o ano de 2100. Em
estudos recentes em recifes de corais na Papua Nova Guinea, cientistas
constataram que exposição a longo prazo a altos níveis de CO2 e pH 7,8
impedem a regeneração das espécies. [Science20, Foto]
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Fonte: Hypescience - http://hypescience.com
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