sábado, 25 de agosto de 2012

Energia

Aumento de Energia

Boas práticas construtivas, tecnologia e os esforços de homens e mulheres
dispostos a entrar agachados nos sótãos abafados e cheios de aranhas, 
afim de tornar suas casas mais eficientes, permitiram que avançássemos muito.
(Jim Gunshinan)
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Berkeley / Ecologia – Desde o princípio do século 20 o petróleo desempenhou o papel de mão de obra barata na economia americana e nas economias do resto do mundo. Tradicionalmente, estivemos interessados nos cavalos de força dos motores de nossos carros, mas o que acontece se quisermos medir a energia que usamos em termos de trabalho humano? Para alimentar uma casa típica americana seria preciso que a população de um povoado pedalasse 24 horas por dia para gerar eletricidade. Inclusive depois das crises do petróleo dos anos 70, continuamos esperando que a terra nos dê abundante petróleo e outros combustíveis fósseis para nosso consumo. E não queremos pagar o preço real, que inclui os custos da degradação de nosso meio ambiente e os custos morais e militares que implicam a manutenção permanente de petróleo barato proveniente do Oriente Médio, do Golfo de México, Nigéria e outras regiões em conflito.

Sou editor da revista Home Energy, que se ocupa da reparação e construção de casas eficientes em termos energéticos, saudáveis e a preços alcançáveis para uma audiência de especialistas em eficiência energética, auditores de energia e contratistas especialistas em eficiência energética, e percebi que estes contratistas são como os médicos quando fazem visitas domiciliárias: entram em casa, diagnosticam os problemas —como contas elevadas por conceito de energia, ar domiciliário pouco saudável, fungos e simples falta de conforto—, oferecendo soluções. Na maioria das casas isso implica selar fugas de calor na construção e nos sistemas de ductos, aumentar o isolamento térmico em sótãos e muralhas, assegurando que a casa tenha um fornecimento controlado de ar fresco.

Contrário ao que alguns seguidores do movimento de construção verde creem, a casa eficiente e saudável geralmente não precisa de janelas novas, sistemas de aquecimento geotérmico que são menos atraentes que painéis solares, telas tácteis e sistemas de monitoramento de casas.

Numa conferência sobre construção verde falei com um construtor sobre um de seus clientes, um solteiro que vive numa casa de 5.000 pés quadrados em Oakland Hills, que instalara quase 1 milhão de dólares em painéis solares no teto de sua casa. Queria uma “casa de energia zero”, isto é, uma casa que produz a mesma quantidade de energia que a que consome no decorrer de um ano. Vejo essa casa aparecer na paisagem toda vez que vou para o leste na Rodovia 24 bem antes do túnel Caldecott, que separa meu escritório em Berkeley das cidades de Orinda, Lafayette e Walnut Creek, onde vivo numa pequena casa que consome menos energia que a média das casas dos Estados Unidos. No entanto, comparando com os padrões mundiais, isto não é para se gabar. Considere isto: com 1 milhão de dólares poderíamos ter equipado 500 casas nas áreas mais pobres e com maiores índices de criminalidade de West Oakland. Em longo prazo, o investimento em eficiência energética teria sido pago somente com o lucro.

Para os pobres e para as classes trabalhadoras, a moradia é um desafio econômico e de saúde. Um estudo sobre moradias de baixa renda em Boston concluiu que fazer uma casa ou um apartamento energeticamente mais eficiente, com melhor qualidade de ar interior, aumenta a saúde e o bem-estar de seus ocupantes. Depois que as casas foram reacondicionadas, os ocupantes foram capacitados com informação básica sobre eficiência energética e hábitos saudáveis —manter produtos químicos tóxicos fora das áreas de estar, usar só métodos de controle de pragas não tóxicos, usar ventiladores no banheiro e na cozinha—. As crianças destas casas tiveram menos necessidade de assistência médica por ataques de asma e tiveram menos absentismo escolar por doença que antes do reacondicionamento de suas casas, e comparando com meninos que viviam em casas menos saudáveis (ver os relatórios em “Battling Childhood Asthma” [“Lutando contra a asma infantil”], de Kiimberly Vermeer, em Home Energy, 2006). Uma casa energeticamente eficiente é também mais saudável e vice-versa. Não se deve sacrificar uma coisa pela outra.

O Programa de Assistência de Climatização do Departamento de Energia recebeu mais de US$ 6 bilhões, através de uma lei de 2009 (American Recovery and Reinvestment Act), conhecida como lei de estímulo do Presidente Obama. Com esses fundos, as agências de climatização com e sem fins de lucro do país transformaram mais de 600 mil casas de baixa renda em casas mais saudáveis e com manutenção mais barata. Muito dinheiro, mas bem investido.

Não só os pobres precisam de ajuda. Recentemente recebemos uma carta de um casal da zona rural de Ohio, os dois eram professores e tinham crianças pequenas em casa. Eles vivem num velho sítio, cuja casa pertencia à família há mais de 100 anos. Mas seus salários acumulados não davam para reformar a casa, pois deveriam renovar o revestimento, o isolamento das paredes e do sótão e trocar o aquecedor. Se não conseguissem ajuda, poderiam perder a casa. Neste momento também não podem enfrentar o gasto de viver numa casa com um alto consumo de energia; também não podem permitir que seus filhos, que têm tendência a sofrer ataques de asma, vivam numa casa cheia de correntes de ar que se enche de umidade no inverno, o que pode produzir fungos. Conectamos essa família com alguns programas, em Ohio, que trabalham nas áreas rurais da região, oferecendo financiamento para o reacondicionamento de casas de famílias de renda baixa e média.

Nos EUA há cerca de 50 milhões de casas, além de vários milhões de apartamentos que abrigam famílias pobres, setores de baixa renda, classe média e de alta renda; a maior parte das casas precisa de algum tipo de reacondicionamento energético.

TUDO ESTÁ NO COMPORTAMENTO
Os especialistas em construção perceberam que tornar uma casa mais eficiente não é o mesmo que poupar energia. Comparadas com as casas dos anos 50, as casas atuais nos Estados Unidos são duas vezes maiores, abrigam a metade de pessoas e usam duas vezes mais energia. Nos últimos 50 anos fizemos grandes progressos em eficiência para aquecimento e resfriamento, além da eficiência dos aparelhos eletrodomésticos, mas isto foi mais que compensado por nossa sede de casas maiores e maior quantidade de aparelhos eletrônicos —todos esses aparelhos que temos em nossas casas e que usam energia inclusive quando pensamos que estão apagados—. Entre estes, os carregadores de celular, os DVDS, sistemas home theater e outros aparelhos eletrônicos denominados “vampiros”. Estas criaturas noturnas consomem até 10% da energia utilizadas pelas casas. De maneira que a tecnologia às vezes ajuda e às vezes entorpecem nossa habilidade para usar os recursos naturais de forma apropriada. Agora há encontros nacionais regulares como o Behavior Energy and Climate Change Conference (Conferência sobre Mudança Climática e Comportamento Energético), que reúne especialistas em tecnologia, sociologia, economia e psicologia para debater como podemos motivar as pessoas a economizarem energia.

Em 2009, ouvi um palestrante falar numa conferência sobre um estudo que analisava o comportamento das pessoas em relação às coisas que compram. Por exemplo, descreveu um homem de meia idade que entrevistou. Falaram sobre automóveis. O entrevistado tivera um velho Honda Accord quando estava no colegial e na universidade, carro que adorava porque lhe dava uma sensação de independência e segurança em si mesmo. Quando se casou e começou a trabalhar num banco seus superiores lhe disseram que deveria comprar um automóvel à altura de seu cargo. Comprou uma BMW. Depois vieram os filhos, ele e sua mulher se sentiram inseguros nas estradas, no meio de enormes veículos utilitários e caminhonetes cabine dupla, de maneira que compraram um utilitário. Mais tarde quando as crianças cresceram e se tornaram independentes, eles compraram um híbrido-não —um Prius, mas um Honda Accord híbrido de 6 cilindros, de maior rendimento que um Accord comum—. Isto lhes permitia sentir que estavam fazendo uma contribuição ao meio ambiente sem sacrificar a sensação de poder e segurança no caminho. Quando lhe perguntou qual de todos os automóveis lhe agradava mais, disse que o velho Honda Accord da sua adolescência. Não estava completamente consciente disso nesse momento, mas dirigir o velho carro combinava mais com a etapa que estava vivendo, a do adolescente independente e seguro de si mesmo. Depois disso, viveu a história de outros —do seu chefe, da indústria bancária e a de uma sociedade insegura depois dos ataques terroristas que afetaram nosso país em 2001—.

UM CÂMBIO DE RELATO
Nossa tradição religiosa provê uma resposta aos nossos desafios energéticos. A história primordial de nossa cultural consumista nos indica que o sucesso é ter um automóvel grande e caro e uma casa cheia de artefatos eletrônicos, aquecedores para as toalhas do banho e tetos complicados difíceis de serem vedados. A religião dominante diz que somos indivíduos rudes e que o sucesso monetário é uma bênção de Deus.

Com esse relato na cabeça dos donos de casas em todas as partes, não é de se estranhar que tenhamos problemas de energia de direitos humanos de fundo”. O direito à vida, à liberdade, à felicidade são direitos humanos “formais”. O direito à sindicalização e à negociação coletiva e o direito à alimentação, à moradia, ao vestuário, a educação, a saúde e um salário mínimo são a versão de fundo. Isso é o que séculos de ensinamento católico social promoveram.

Encontramos a mesma sabedoria em outras tradições e entre os cientistas. John Muir, grande ambientalista e um dos pais dos parques nacionais, disse: “Quando tratamos de tomar uma coisa por si só, encontramos que está unida a todas as outras coisas no Universo”. A boa ciência nos mostra que tudo está conectado. A boa religião também. Quando nós todos reconhecermos que uma sociedade onde todos têm um lugar decente para viver é uma sociedade saudável e próspera, e quando olharmos a terra como um valioso sócio de vida com a qual estamos intimamente unidos, então, seremos capazes de dar passos maiores para uma forma de vida sustentável no planeta.

Boas práticas construtivas, tecnologia e esforços de homens e mulheres dispostos a entrarem nos seus sótãos abafados e cheios de aranhas agachados,a fim de tornar suas casas mais eficientes, fazem-nos avançar enormemente. No entanto, todos nós, consumidores de energia, devemos mudar de atitude para completar a viagem. Temos que aceitar uma história diferente, que seja mais fiel a nossa natureza humana. Que ela valorize a independência, mas também a cooperação; uma sensação com a qual possamos criar uma melhor vida e consciência de que vivemos num mundo limitado, onde as coisas que usamos diariamente são um presente precioso que temos que preservar para o uso das futuras gerações. Em outras palavras, temos que aprender a viver com a esperança de que podemos construir um melhor país.
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Jim Gunshinan. Editor de Home Energy, uma revista com base em Berkeley, California. Publicado na revista America, www.americamagazine.org
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Fonte: MiradaGlobal.com

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