sábado, 18 de agosto de 2012

ENERGIA RENOVÁVEL

Energia geotérmica o poder sob nossos pés

 

O poder sob nossos pés: pessoas se encantam diante da fonte hidrotermal Grand Prismatic, 
no Parque Nacional de Yellowstone. (Foto: Shutterstock)



Alguma vez você imaginou domar a força de um vulcão? Os sistemas de energia geotérmica canalizam o calor interno da Terra e poderão em breve contribuir com uma parcela expressiva da produção global de eletricidade.


Foi a maior explosão do século 20. Quando o Monte St. Helens entrou em erupção em 1980, liberou 24 megatons de energia térmica – o equivalente a 1.600 Hiroshimas.

Porém, isso não passou de um soluço, uma simples amostra das forças colossais sob nossos pés. O interior escaldante da Terra gera continuamente temperaturas de até 6 mil graus Celsius – uma fornalha criada pelo calor remanescente da origem ígnea do planeta e pela lenta decadência das partículas radiativas.

Esse é um imenso reservatório de energia amplamente subutilizado e uma fronteira da energia renovável ainda pouco explorada.

Isso está prestes a mudar, de acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia (International Energy Agency – IEA). A produção global de calor e eletricidade a partir da energia geotérmica poderá aumentar dez vezes até 2050, diz o relatório, chegando a 3,5% da produção anual mundial de eletricidade.

Mas como chegar a essa fonte de energia tantos quilômetros abaixo da superfície?

Até hoje, deixamos que ela viesse até nós, canalizando a água aquecida pela Terra e que chega à superfície sob a forma de gêiseres, por exemplo, que são frequentes em zonas vulcânicas, como o "Anel de Fogo" do Pacífico.

A maior usina de energia geotérmica do mundo – as fontes conhecidas como The Geysers (Os Gêiseres) –, nas Montanhas Mayacamas, próximo a São Francisco, tira sua energia de um reservatório de vapor que alimenta mais de 350 poços, alguns com mais de 3 quilômetros de profundidade. Em média, ali são produzidos 955 MW de energia, o suficiente para fornecer eletricidade para 1,1 milhão de pessoas.

Em 2010, 24 países usaram usinas geotérmicas para gerar eletricidade – na liderança estão Estados Unidos (com 3,1 GW de capacidade), Filipinas (1,9 GW) e Indonésia (1,2 GW), segundo o relatório 2011 Global Status Report, publicado pela Renewable Energy Network for the 21th Century – REN21 (Rede de energias renováveis para o século 21). A Islândia obtém 27% da sua energia a partir da energia geotérmica, e pelo menos 78 países utilizam a energia geotérmica para obter aquecimento.

Basicamente, os engenheiros estão utilizando a água e o ar como gigantescos espaços de armazenamento. Uma vez que a energia do calor sobe até a superfície, como ocorre naturalmente em áreas tectônicas ativas, como a Islândia, bombas de calor extraem a energia das suas fontes. As bombas atuam de modo similar aos refrigeradores, com a diferença de que produzem calor em vez de refrigerar.

Quanto à produção de energia, o vapor canalizado na fonte The Geysers, por exemplo, é posto para trabalhar girando turbinas para gerar eletricidade.


Desenvolvimento futuro
Embora o desenvolvimento tenha desacelerado em 2010, se comparado a 2009, o relatório da IEA espera “uma aceleração significativa no índice de instalação, à medida que tecnologias avançadas possibilitarem desenvolvimento em novos países”, como o Quênia.

Por que o Quênia? Esse país africano é cortado pelo vale do Grande Rift, uma região de grande atividade sísmica, tal como a região do 'Anel de Fogo', no Pacífico. Com isso, o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) apoia um projeto em seis países da África oriental, visando explorar o potencial geotérmico do vale do Rift.

Enquanto isso, na Indonésia, a geotermia é uma alternativa essencial aos combustíveis fósseis. O governo quer adicionar 9,5 GW de capacidade geotérmica até 2025, o que equivale a 33% da demanda energética do país, segundo o relatório Bloomberg New Energy Finance. O Banco Mundial e diversas concessionárias de energia internacionais estão prestes a investir nisso bilhões de dólares, levando Al Gore a apontar a Indonésia como a primeira “superpotência geotérmica”.

A Indonésia está situada sobre os limites entre placas tectônicas, o que torna a energia geotérmica facilmente acessível. A natureza faz a maior parte do trabalho, mas... e se você quiser extrair a energia da Terra em áreas não vulcânicas?

A maior parte dessa energia alcançável – até 5 km abaixo da superfície – está contida no interior de rocha seca impermeável, diz a IEA. Os engenheiros geotérmicos querem extrair essa energia usando o processo HDR (sigla em inglês para hot-dry-rock: rocha quente e seca). Os primeiros projetos piloto, como o projeto da França perto de Soultz-sous-Forêts, na Alsácia, parecem promissores.


Vamos perfurar?
Engenheiros cavam um poço em rochas a 200 graus de temperatura. A água é então injetada na rachadura, capturando o calor das rochas, e depois é bombeada para fora como água quente através de um segundo poço. Em seguida, um trocador de calor extrai a energia da água, seja para gerar energia ou aquecimento.

O HDR ainda é muito custoso, mas já estão sendo desenvolvidos sistemas geotérmicos avançados que poderiam expandir a exploração geotérmica global de modo mais econômico. Uma maneira de reduzir os custos seria associar as usinas geotérmicas com usinas geradoras mais convencionais.

A primeira usina híbrida de energia geotérmica e solar do mundo está em fase de desenvolvimento – anunciaram líderes do setor durante a cúpula nacional de energia limpa de 2011 (2011 National Clean Energy Summit), em Las Vegas. A instalação combinará 80 mil módulos solares fotovoltaicos com tecnologia hidrotérmica tradicional e está prevista para fornecer 24 MW de eletricidade à rede nacional de energia.

Há um espírito de otimismo no ar. As avaliações da IEA encontram eco nos especialistas, os quais veem o potencial da energia geotérmica contra o pano de fundo dos preços crescentes dos combustíveis fósseis e as metas de mitigação para a mudança climática.

”Os preços altos e a mudança climática estão definitivamente fazendo renascer o interesse na geotermia, especialmente em nível estadual e local”, afirmou Karl Gawell, diretor executivo da Associação de Energia Geotérmica (Geothermal Energy Association), na edição online do jornal The Telegraph.

Esse renascimento tem grandes possibilidades de se espalhar também pela Europa, que foi o berço da produção de energia geotérmica em 1904, quando a usina de energia a vapor de Larderello, na Itália, iniciou suas operações.

A energia geotérmica alimenta vulcões e desencadeia terremotos. Foi ela também que abriu caminho para as primeiras formas de vida na Terra. Bilhões de anos depois, poderia o núcleo quente do nosso planeta contribuir no sentido de termos uma vida melhor? Poderia o slogan “Vamos perfurar” tornar-se o grito de alerta clamando por energia verde?


Fonte: http://sustentabilidade.allianz.com.br, em 15/agosto/2012, por Michael Grimm

 

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