sábado, 15 de setembro de 2012

O design e a sustentabilidade


O IDDS - Encontro Internacional de Design para Desenvolvimento Social reuniu pessoas de diversos países para criar tecnologias ou empreendimentos que melhorem a vida de pessoas em situação de pobreza. (Foto: Juan Carlos Noguera e Omar Crespo / Divulgação)
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O que é design sustentável e como podemos mudar nosso jeito de olhar para produtos e serviços – uma mudança que pode nos levar a modificar a forma como agimos no mundo!

Quando você compra um produto, pensa de onde ele veio, como foi planejado, o que foi gasto para que ele existisse? No geral, não fazemos isso sistematicamente – mas há quem faça! A ambientalista norte-americana Annie Leonard, por exemplo, fez e divulgou suas descobertas pelo vídeo que a deixou famosa no mundo todo, “A História das Coisas”.

Mas por que falar desse vídeo agora? Porque refletir sobre a origem das coisas é um ótimo jeito de começar a falar de design sustentável. Afinal de contas, se nós nem sempre pensamos em tudo isso quando fazemos uma compra, será que tem alguém que pensa?

Sim, esse é exatamente o trabalho de um designer. Ao desenvolver um produto, ele tem de pensar nos recursos que serão necessários para fabricá-lo, nos usos do produto, nos custos, no preço final ao consumidor. Mas pode também fazer mais do que isso: se der um passo para trás e pensar em como aquele produto se encaixa em uma cadeia e o quanto ele é necessário, talvez lhe ocorram soluções inovadoras e ele perceba que existem outras maneiras de olhar para aquela aparente demanda.

Dentro desse repensar de usos e funções, surgiu o termo “Design Sustentável”. Ele integra ao desenvolvimento de um produto as três bases da sustentabilidade: que esse produto seja economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente equitativo. “O design sempre teve essa preocupação ampla, e agora isso vem se estruturando de maneira mais efetiva”, explica Fábio Silveira, professor do curso de Design do Istituto Europeo di Design (IED), em São Paulo.

As oportunidades para que designers encontrem soluções sustentáveis são muitas – essa integração entre o econômico, o ambiental e o social muda (em alguns casos, bastante!) a perspectiva das coisas. Algumas empresas já fazem isso de forma estruturada, o que fica claro quando notamos o redesenho das embalagens, a criação de refis, a mudança nos materiais usados, um relacionamento cuidadoso com seus fornecedores, uma prestação de contas transparente, etc.

Mas o design sustentável pode ir além. Um designer, que tem como uma de suas características básicas a “costura de saberes”, ou seja, uma pesquisa cuidadosa de tudo o que está envolvido com o seu trabalho e a criação de uma solução que atenda a essa cadeia de usuários, diretos ou indiretos, pode nos ajudar (e muito!) a repensarmos nosso papel no mundo.

Voltando ao “A História das Coisas”: se hoje, antes de sermos professores, advogados ou vendedores, somos consumidores, será que basta apenas repensarmos o que consumimos? Ou será que o modelo todo precisa ser reinventado? Se hoje nossa identidade se constrói a partir do que temos e do que queremos ter, o que pode substituir o consumo nessa equação?

Há quem esteja olhando para o design também como ferramenta importante para a inovação social, para um novo jeito de pensar a construção das marcas, para um novo jeito de empreender e educar. O IDDS, por exemplo, Encontro Internacional de Design para Desenvolvimento Social, realizado em julho de 2012 em São Paulo, reuniu quarenta participantes de vários países para criar tecnologias ou empreendimentos que melhorem a vida de pessoas em situação de pobreza.

O que o IDDS propõe é que jovens, designers ou não, saiam da prancheta e dos trabalhos acadêmicos e, de fato, construam uma solução para uma comunidade junto com a própria comunidade. O IDDS acredita na ideia de cocriação, ou seja, o grupo de participantes tem como missão instrumentalizar aquela comunidade e, junto com ela, resolver problemas que tenham sido apontados por seus membros. É uma mudança e tanto: do “eu pensei, fiz e coloquei à venda” para o “nós criamos juntos e essa solução é sustentável”.

O legal de falar em Design Sustentável é enxergar que ele começa no produto mas pode ir muito além. Um exemplo: um designer pode, sim, pensar em bicicletas ainda mais eficientes, com matérias-primas renováveis, que aproveitem de alguma forma a energia gerada por quem pedala. Tudo isso é ótimo e necessário. Mas podemos também repensar o modelo: precisamos todos ter uma bicicleta em casa, que fica parada vários dias da semana?

Essa mudança na forma de pensar gerou, por exemplo, o conceito de aluguel de bicicletas nas grandes cidades. Quando o cidadão precisa, ele se dirige a um ponto previamente sinalizado e conveniente, paga um valor justo e usa a bicicleta pelo tempo necessário. Afinal de contas, nós não precisamos ter uma bicicleta, apenas desfrutar das facilidades de uma quando nos for interessante.

“Nas boas faculdades de design, essas discussões já estão presentes no dia a dia dos alunos”, afirma o professor do IED Fábio Silveira. Ou seja, o futuro do design promete – e enxergá-lo já de maneira intrínseca como algo sustentável e inovador é uma conquista que pode, sim, mudar (e muito!) a história das coisas.

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Fonte: Allianz, em 11/setembro/2012 - http://sustentabilidade.allianz.com.br 

 

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